domingo, 10 de fevereiro de 2008

Notíca - Jornal da Paraíba www.jornaldaparaiba.com.br

Fé para acabar com a intolerância religiosa

ALINE LINS

Como você se sentiria se alguém passasse por você e fizesse o gesto característico de quem se benze, fazendo o sinal da cruz? A mãe-de-santo Maria da Luz da Silva, conhecida como Mãe Penha de Iemanjá, natural de Sapé, fica arrasada toda vez que isso acontece, o que não é raro. Outro episódio constrangedor lhe aconteceu em outubro passado, quando um rapaz foi entregar uma encomenda em sua casa, em Mandacaru, e, ao informarem que ali havia um templo religioso - entenda como isso um terreiro de umbanda -, o entregador saiu gritando: “queima! queima!”. Em agosto do ano passado, durante um culto na Federação dos Cultos Africanos da Paraíba, em Mangabeira, uma das filhas-de-santo de Mãe Penha, que faz parte da diretoria da federação, afastou-se do templo onde estava havendo um culto religioso e voltou correndo apavorada, impressionada com gritos ordenando que todos que estivessem no culto, queimassem.
“Isso é comum. Acontece até enquanto a gente está conversando com uma pessoa e ela, de repente, diz: ‘Está amarrado em nome de Jesus’ com a gente que é do candomblé ou da umbanda”, revelou Mãe Penha, ialorixá do Templo de Iemanjá Sabá. “Nós também somos filhos de Deus”, desabafou a ialorixá, que às vezes tenta explicar a sua religião às pessoas. “Quem faz isso é porque não conhece e por isso, não aceita”, disse.
A intolerância religiosa não é de hoje. Tem raízes históricas. E apesar das principais vítimas serem aquelas pessoas de religiões de matriz africana, como afirmam alguns especialistas da área, atinge todas elas porque as pessoas costumam não aceitar o que é diferente de si mesmas.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 garante a liberdade de crença e culto e recentemente o Senado aprovou mais um dispositivo que fortalecerá a luta contra esse comportamento. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, no último dia 27 de dezembro, a lei de autoria do deputado federal Daniel Almeida (PCdoB/BA) criando o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, estabelecendo para isso o dia 21 de janeiro. Portanto, no último dia 21, o Brasil comemorou, pela primeira vez, esse dia de luta contra uma prática que provoca desde constrangimentos até a morte de pessoas, inclusive de religiosos, como foi o caso de uma ialorixá da Bahia, Mãe Gilda, Yalorixá do Terreiro Abassá de Ogum, que morreu no ano 2000, depois de ter a sua imagem depreciada no Jornal Folha Universal, conforme informações no site do deputado autor da lei (http://www.daniel.org.br/mostraNoticia.asp?id=641). Salvador foi a primeira cidade brasileira a ter um dia dedicado ao tema. A proposta da lei municipal é de autoria da vereadora Olívia Santana (PCdoB), e serviu de inspiração para Almeida.
HÁ MUITO TEMPO
Segundo o assessor da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR), Ivair Augusto, desde o início do século 20 há perseguições religiosas no Brasil, sendo que até 1976 era necessário alvará expedido pela polícia para abertura de terreiros, o que atualmente não se faz mais necessário.
Um dos fundadores do curso de especialização e mestrado em Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Severino Celestino, ex-seminarista e pesquisador, explicou que a intolerância religiosa é ocasionada pelo desconhecimento da religião. “Cada um conhece a sua e se fecha para as demais, acreditando que as outras não são autênticas”, esclareceu. Para ele, as pessoas podem se amar e respeitar umas às outras, apesar das diferenças religiosas, pois “a maioria delas se dirige para um mesmo Deus, embora tenham diferentes práticas, condutas e filosofias”, ressaltou Celestino, que é espírita e afirmou que sua religião, por exemplo, atualmente já é bem mais tolerada por causa da divulgação. Mas algumas práticas e ritos geralmente ligados às religiões de matriz africana, como a prática de sacrifícios, ou o fato dos espíritas acreditarem na reencarnação, fazem com que alguns grupos religiosos discriminem determinadas religiões.


‘Todo caminho leva a Deus’, avalia professor

Quem já não ouviu falar que, em algumas casas, os testemunhas de Jeová não são bem-vindos, sendo até pejorativamente chamados de “os queima-feijão”, em referência ao tempo que gastam estudando as escrituras sagradas, nas casas visitadas, supostamente fazendo com que a comida no fogo passe do ponto? Os missionários da Igreja dos Santos dos Últimos Dias, igreja de fundamentação cristã com características restauracionistas, também sofrem na pele a recusa das pessoas a escutá-los e, muitas vezes, até vêem receio e desconfiança no olhar das pessoas. Assim, estas e muitas outras religiões encontram o terreno estéril para suas sementes da evangelização.
Além disso, a crença de que sua igreja é incontestavelmente “a verdadeira” leva muitas pessoas a discriminarem as religiões alheias. Para o professor Severino Celestino, a filosofia dos conhecidos como mórmons, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, por exemplo, que apesar de ser uma igreja de fundamentação cristã, segundo o pesquisador “foge um pouco das doutrinas das religiões cristãs”, quando seguem o Livro de Mórmon, outro testamento de Jesus Cristo, além da Bíblia, a qual seguem no geral as religiões do cristianismo, que é uma das três religiões monoteístas reveladas (monoteísta significa a crença na existência de um único Deus), bem como o islamismo e o judaísmo. “Se você pertence a uma religião, é para você que ela é a verdadeira, mas todo caminho leva a Deus”, ponderou o professor.
Para o arcebispo da Paraíba, dom Aldo Pagotto, “a única igreja que Jesus Cristo quis fundar subsiste na católica”, ou seja, identifica-se na católica.
Já o pastor Sérgio Augusto de Queiroz, da Igreja Batista do Bessamar “Cidade Viva”, que se define sobretudo como cristão, dada a amplitude que o termo evangélico pode alcançar, disse que “todas as religiões têm um pouco de proselitismo, tendem a dizer ‘esse é o caminho’, mas ele também explicou que no caso do seu grupo em particular existe a consciência de seguir a escritura sagrada. Ele ressaltou que o conceito de “intolerância religiosa” não se confunde com “convicção espiritual”.
“O cristianismo bíblico revelado nas escrituras é o caminho que Deus escolheu para alcançar os homens. Não é uma intolerância, mas um embate de idéias”, explicou. “Amamos e respeitamos qualquer pessoa, pois o fato de entender-se no caminho de Deus, não nos dá o direito de olhar para os outros com superioridade”, disse o pastor. Entretanto, no geral, não é isso que ocorre em qualquer que seja a religião. “A prática da intolerância está relacionada ao foro íntimo de cada um”, frisou Queiroz.
Para dom Aldo Pagotto, ninguém pode ser intolerante em um mundo plural. Haveria que se admitir espaços de expressão. “Quando uma verdade de fé é estremecida, tentamos não polemizar para defender uma idéia, mas esclarecer, chamar ao mérito da questão, porque nós não podemos nos omitir enquanto cristãos quando uma verdade é abalada, exposta de maneira agressiva”, explicou. (AL)


Discriminados podem procurar a OAB

O embate entre as religiões pode ser velado, mas é freqüente. Nas tradições e cultos afro-brasileiros, por exemplo, em 8 de dezembro, comemora-se o Dia de Iemanjá. “Em 8 de dezembro, os evangélicos vão para a praia entregar folheto dizendo que estão olhando pela gente, para tirar a gente do demônio”, denunciou Mãe Penha de Iemanjá.
Esse tipo de prática já chegou ao conhecimento da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PB. “Alguns evangélicos vão para a festa de Iemanjá participar de um enfrentamento, através de distribuição de panfletos, contratam carro de som e divulgam que essa religião é de cunho satânico. Essa é uma expressão de intolerância religiosa que pode gerar violência”, declarou o presidente da Comissão, Alexandre Guedes.
Ele orientou que as pessoas que se sentirem discriminadas, podem procurar a Comissão dos Direitos Humanos da OAB-PB, o Conselho Estadual dos Direitos do Homem e do Cidadão, o Ministério Público de seu município ou o Ministério Público Estadual, os Direitos do Cidadão da Procuradoria da República para denunciar esse tipo de crime por intolerância religiosa e discriminação porque, conforme explicou, a impunidade provoca uma cadeia de eventos que fortalece a ampliação das violações desses direitos, sendo necessária a denúncia e o combate.
No Oriente Médio, as guerras religiosas - as chamadas “guerras santas” - são comuns. Mas, no Brasil, um país miscigenado e diversificado em sua cultura, é de se estranhar que ainda haja esse tipo de preconceito. O País, desde a Constituição da República de 1988, é laico. O laicismo é uma doutrina filosófica que defende e promove a separação do Estado das igrejas e comunidades religiosas, assim como a neutralidade do Estado em matéria religiosa, o que não deve, entretanto, se confundir com ateísmo de Estado. (AL)


Homossexuais são vítimas de religiosos

No calor do púlpito, alguns líderes religiosos acabam se excedendo, mas muitas vezes o preconceito é fruto das próprias reações sociais. O presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Paraíba (OAB-PB), Alexandre Guedes, disse que a intolerância é percebida não apenas entre as religiões, mas dos religiosos – especialmente evangélicos e da ala conservadora da Igreja Católica – para com grupos diferenciados da sociedade, como os homossexuais, ou ainda contra alguns avanços da sociedade ou temas específicos, dentre os quais estão a eutanásia, o aborto, livre orientação sexual, uso de preservativos, virgindade.
“A intolerância tem muito a ver com o convívio social, e ela existe aqui na Paraíba de uma forma muito velada, como quando houve a passeata pela Diversidade Cultural e Sexual, aqui em João Pessoa, em que na véspera houve uma outra passeata, com cartazes, pregando e denotando intolerância com relação a essa diferença, puxada pelos evangélicos”, disse Guedes.
Alexandre Guedes lembrou que, em Campina Grande, foram colocados outdoors disseminando a intolerância, expondo a homossexualidade como algo pecaminoso e imoral. A Justiça determinou a retirada desses outdoors.
Para Guedes, a tentativa de “lapidar o processo civilizatório” por parte de grupos religiosos mais “fundamentalistas” é prejudicial para o desenvolvimento da sociedade brasileira. “Podemos ver que a bancada evangélica no Congresso Nacional está tentando boicotar a união civil entre pessoas de mesmo sexo”, exemplificou. Do ponto de vista jurídico, essa prática é crime de discriminação e já existe lei anti-homofobia tramitando no Congresso Nacional.
O arcebispo da Paraíba explicou que em relação a determinados movimentos sociais, como o Movimento dos Sem-Terra (MST), e mesmo o movimento GLBT, ele particularmente não se posiciona contra o mérito, mas contra a metodologia utilizada pelos movimentos, a exemplo das invasões do MST. Ele explicou que é contra o movimento acreditar que “todo mundo deva defender a bandeira” da homossexualidade, “dando a entender que o normal é ser gay”. “Isso não vai levar a um diálogo”, disse. (AL)


Catolicismo promoveu a intransigência

“O catolicismo promoveu muitas intolerâncias religiosas, e temos exemplos ao longo da história, como as Cruzadas, a Inquisição, o anti-semitismo (anti-semita é todo inimigo da raça judaica, de sua cultura ou de sua influência)”, lembrou Celestino. Mas esse quadro foi muito modificado com o embate de poderes ao longo dos anos entre a Igreja Católica - que a certa altura da história tanto teve seu poder ligado ao Estado que se denegriu - e a Protestante (com a Reforma Protestante que combateu alguns dogmas da igreja Católica). De 1962 até hoje, a igreja Católica vem pedindo perdão por todos esses fatos históricos que fortaleceram a intolerância religiosa.
Atualmente há grupos religiosos de confissão evangélica radicais que se posicionam fortemente contra as religiões de matriz africana e promovem uma série de atitudes de enfrentamento contra os filhos-de-santo. De acordo com o pesquisador, o protestantismo “é muito literal, seguindo a Bíblia de forma ortodoxa, sem ir a fundo ao seu significado espiritual”, sendo que muitas vezes a Bíblia, cujo texto original estava em hebraico e alguns capítulos, como o livro de Daniel, em aramaico, seria, para o especialista que conhece a língua original do Livro Sagrado, mal traduzida. “Muitas vezes, o que está escrito em português não é o que tem nos textos originais, está mal traduzido, e o líder espiritual propaga aquilo que entende, para o seu grupo, que aceita cegamente o que ele diz”, disse Celestino.
A mãe-de-santo Renilda Bezerra de Albuquerque Melo, Mãe Renilda, presidente da Federação Independente dos Cultos Africanos, afirmou sentir que, para a sociedade, as religiões de matriz africana são uma vergonha, apesar do número de tempos aumentar cada vez mais. Ela informou que no bairro de Cruz das Armas, por exemplo, existem 62 terreiros, ao passo que há apenas três igrejas católicas e em torno de dez evangélicas. Já Mãe Penha disse que na Federação dos Cultos Africanos existem entre 150 a 200 templos registrados. A maioria desses terreiros são escondidos, nos fundos de casa, e não possuem placa de identificação.
De acordo com dados do Censo Demográfico do IBGE/2000, apenas 1.287 pessoas teriam declarado pertencer à religião Umbanda em toda a Paraíba, e 417 pessoas ao Candomblé, em 2000. Apesar das igrejas evangélicas estarem em ascensão, a igreja católica detém a grande maioria dos fiéis. Há oito anos declararam pertencer ao catolicismo 2,92 milhões de pessoas, ao passo que 303.151 mil se declararam evangélicos, sendo 187.457 disseram ser de igrejas evangélicas de origem pentecostal. Dessas, pelo menos 118,5 mil são da Igreja Assembléia de Deus, 34,9 mil da Igreja Universal do Reino de Deus, e o restante distribuídos em entre outras igrejas, incluindo 9,4 mil pessoas que se declararam evangélicos sem vínculo institucional. (AL)



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É por essas coisas que muitos advogam que o pensamento religioso é prejudicial...
Quando falam que a intolerância vêm da ignorância e da falta de conhecimento das outras religiões, acho que estão tentando esconder a verdade e ser politicamente corretos...
A intolerância religiosa vem da raiz da religião e está prescrita nos textos sagrados de muitas delas... Os cristão, por exemplo, são ensiados que a única forma de chegar a Deus é através de Jesus e que as demais religiões são necessariamente coisas do demônio. Na verdade, em termos bíblicos, o que estes evangélicos fazem com carros-de-som e distribuição de panfletos e até mesmo enfrentamentos está corretísssimo! Eles estão espalhando a palavra de Deus, tentando salvar as pessoas sob o poder do demônio e lutando contra o inimigo... Tá na Bíblia... Isto e muitas outras coisas horríveis...
Na minha opinião, CRISTIANISMO e ECUMENISMO não combinam... não se pode ser CRISTÃO e deixar a obra de Satanás correr solta por aí...

Afff... por isso que seria melhor dar logo um fim a isso tudo...

E O MAIS IMPORTANTE!!!! LEIAM!!!!!

Não falaram, mas vou colocar aqui! Existe uma "vertente" bem grave da injúria, com uma penazinha de três a cinco anos de reclusão!!!! É bom ficar de olho e processar essa galera intolerante, quando eles injuriarem você:

Injúria

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

[...]

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459, de 1997)

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Ou seja: vamos botar pra quebar!!!!! É usar a Lei contra essa galera!!!

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